sexta-feira, 13 de outubro de 2017

fur

é assim que eu queria ter vindo ao mundo
é assim que eu queria que seus olhos me conhecessem 
pelos traços do meu rosto quase adormecido na contra capa do livro de matilde
é assim que eu queria ser no mundo
usando flores no meu cabelo sempre escondidas no emaranhando dos cachos tímidos 
escondidas no emaranhado do caos da minha cabeça 
o chuva traz o cheiro da terra molhada que subia do chão embaixo do pé de amoras da fazenda do meu avô em que eu escalava todo mês de outubro
eu aprendi a nadar na água gelada da cachoeira que nasce no final da trilha atrás dos pinheiros
a saudade é um batimento que arrebenta assim vinte e oito vezes desde meu ombro tatuado de desastre até as articulações do meu calcanhar 
você faz falta, my love 
suas mãos desenhando o oxigênio no nosso último verão 
a forma como o calor dos dias de tempestade bate nas janelas e se refrata na mobília bate nos azulejos me faz lembrar a cor do seu cabelo refletindo o castanho mel dos seus olhos-sol
escrevo seu nome setenta vezes seguidas mas isso não espanta a saudade de dizer seu nome engasgando em risadas
as revoluções são sempre lugares calmos para descoberta do sossego
the flowers here are lovely
a coragem é o varal em que penduro as minhas roupas e corro
my darling, i always find a way to run right back to you
é assim que serei mulher no mundo 

permanecendo em saudade de dias melhores com você. 

sábado, 1 de julho de 2017

amar sem pressionar

espere. dê tempo, contenha-se. segura dentro de você até ebulir e evaporar. o aperto no peito não é mais forte que você, aperte de volta. aperte até sentir te invadindo, te transformando numa pilha de carne crua e fria. 
seja pilha de carne crua e fria. 
ame mas ame calada, gema bem alto, ria discretamente e chore escondida. chore embaixo do chuveiro às três da manhã da terceira noite de insônia consecutiva enquanto a água quente queima a pele mas você não sente 
seja baixo. seja calada. seja em silêncio. 
você gosta quando me come de quatro e goza dentro de mim você gosta do carinho que faço em seu braço logo depois e dos sussurros de afeto em seu ouvido. você gosta de mim? 
ou você gosta de mascarar a inevitável solidão da existência? 
você também tem medo de desaparecer como um mero segundo num espaço tempo de infinitas horas?
eu escorri pelo ralo da pia em que vomitei o que sobrava de mim.
silêncio. 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

poema a um

eu ouço os carros dançarem contra o vento do lado de fora da janela do nono andar desse prédio tão alto tão branco
nas horas de insônia tudo é tão calmo
tão quieto
fecho os olhos e me vejo nua, vejo uma carne crua que abraça o meu desespero feito um nó que aperta as angústias até elas escorrerem pelos poros
vejo o medo que me definha carcomer meus ossos
tenho medo
tenho nojo
agonia
desespero
eu vomito e mesmo assim não consigo tirar de dentro essa ojeriza essa dor de estômago em me encarar no espelho e enxergar um reflexo violado
corrompido
eu ouço as risadas
eu vejo a minha blusa de frio jogada no chão encharcada pela chuva que cortava a noite feito um canivete
eu me vejo esparramada pelo chão escorrendo de mim mesma como se fosse embora de mim
às vezes eu queria ir embora de mim
eu queria existir num plano além do físico em que não precisasse desse corpo
esse corpo manchado de horrores
esse corpo que eu queria esvaziar
mas ainda sim se só me sobrassem os ossos são ossos marcados até o cerne por cicatrizes tão antigas quanto as memórias que me torturam
é um corpo obrigado a obedecer as minhas inseguranças
um corpo sujo
queria que o cigarro que eu fumo me queimasse de dentro pra fora até fazer cinzas dos medos que norteiam cada passo que dou
me tira daqui
me leva pra qualquer lugar que não seja eu
transforme meu eu em fim

sábado, 19 de novembro de 2016

no lugar de um prefácio

do fim ao começo ao fim.
eu vou amar você, porque é isso que poeta faz. vou sentir estalar cada osso, arrepiar cada pelo, escorrer cada lágrima, sorriso, gozo. eu vou me apaixonar por você cada vez que sentir seus olhos passeando pelo meu corpo, seus dedos tocando minha pele como tocam uma obra de arte em uma exposição, clandestino. eu vou chorar toda vez que te deixar, mas vou me fazer de forte e esperar virar a esquina. vou te escrever poemas e te falar coisas do coração, ouvir essa sua voz meio rouca ecoar na minha mente toda vez que ler suas palavras, esquizofrenia.
se tudo der certo, você vai se apaixonar. vai me querer de corpo, alma e lua, vai querer fazer seus todos os meus beijos e além, vai se esbaldar em mim. vamos dançar ao som todo, qualquer e nenhum. você vai achar dentro de mim os mesmos demônios que o assombram o âmago, e eles vão se gostar. se é amor nunca é pouco, e é o único nome que você vai saber dar para o que será.
então vamos nos ver, e nos olhos um do outro teremos encontrado desequilíbrio e caos: paz.
da arte que somos feitos vamos nos moldar um no outro, sempre risco de vida. fazer fotografias mentais até dos imperceptíveis hábitos um do outro, fazer poses pagando de cult em nossas fotos hipsters de casalzinho moderno que postaremos pra todo mundo ver. fumar do mesmo cigarro, beber da mesma long neck de cerveja barata sentados na mesma cadeira de plástico de um boteco copo sujo qualquer.
vamos transar como se nossos corpos dependessem um do outro para continuarem vivos, e não vamos ter nenhuma espécie de pudor. nosso sexo vai estar estampado em nossas caras, toda vez que nos tocarmos com as pontas dos dedos, olhos ou lábios, o desejo e a necessidade do contato da carne, do prazer imensurável que encontramos em nosso sangue pulsando forte e rápido nas veias, na respiração descompassada, nos gemidos, chegarão a ser tangíveis.
felicidade lícita.
então você vai perceber que odeia algumas coisas sobre mim, meu mau humor matinal, minha irresponsabilidade, sedentarismo físico-artístico-mental, minha inconsequência. você vai conhecer meus amigos, mas não vai gostar da maioria deles porque a vibe é outra, são novos demais pra você. vai perceber que talvez eu seja nova demais pra você. a distância nos tortura, e nos finais de semana eu vou estar enchendo a cara, ficando chapada com pessoas sem nome que só existem quando quero em algum canto da minha boêmia pra tentar ocupar o lugar do vazio congênito que assola meu imo.
você vai tentar de tudo, vai me amar com o máximo que sua alma pode dar, mas eu sou um tiro no escuro. você achava que seria diferente, que me completaria até vazar, mas eu continuo presa as minhas lacunas, ao meu vazio pessoal. uma tristeza por inércia, que camuflada engana, mas a rotina bate ponto todo dia, 24/7.
eu sou o fim de mim mesma dentro da minha constante vontade de ser infinita. a culpa não é sua: eu sou inóspita.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

jk100

ainda me lembro perfeitamente do segundo em que meus olhos encontraram os seus pela primeira vez... lembro da sensação de finalmente pertencer. eu acho que sempre soube que eu e você éramos um nós desde o primeiro abraço. sabe, os dias têm sido difíceis sem você por perto. a vida parece que perdeu um pouco o gosto, o cheiro, o tato - a claridão. me vejo morando em memórias, nas manhãs serenas a imensas que acordamos juntas depois de dormir apertadinhas na sua cama de solteiro. o tempo parecia nosso. estou perdida, você é meu ponto de chegada e perdida, estrela guia, rosa dos ventos. você é meu norte, e agora eu vivo sem direção. foram tantos infinitos naquela casa amarela de janelas marrons, e hoje meu coração faz morada num passado que me recuso a deixar passar. me agarro forte a tudo de você que habita meu corpo, porque é tudo de bom que existe em mim. nostalgia-jk100, meu poema favorito, os melhores dias de uma rotina tão linda, tão delicada e pura que só poderia mesmo ser feita de eu e você. menina, eu te amo do tamanho da minha saudade, e te amarei enquanto correr sangue por essas veias.
obrigada por ser minha casa.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

diminutivos

I'm not in love with you, but when I close my eyes, I can see yours looking deep inside my soul, and I'm drowning in your sea of blue. I can feel your soft touch, the contrast between your pale skin on mine, your warm breathe as a Autumn's breeze in my ears.
I'm not in love with you, but I wake up at 3 in the morning and I know you're not here, but I still look for you, sometimes I can even feel your arms around me.
your shades are my favourites colours.
I'm not in love with you, not at all, but my concept of comfort is listening to your voice, or even your silence. I picture myself playing with your god damn hair while I'm lying on your chest, and I can hear your slow heartbeats, feel your blood running in your veins.
I'm not in love with you, but you make me feel completely alive.
when I look at my side and you're sleeping, peaceful and light, breathing deeply and you're so poetically beautiful.
I'm not in love with you, but you made me realise that home is not a place.
your smile, the way that you say my name, the way you touch me. your body on top of mine, your mouth on my ears, your fingers inside me.
I'm not in love with you, but I can feel you on my bloodstream.
I can be myself in every single way.

I'm not fucking in love you, except that I am.  

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

síndrome

expiro respiro fundo fundo respiro expiro fundo mais fundo fecho os olhos fecho mais mais abro e fecho mais forte mais fundo expiro respiro fecho fecho fundo forte mais expiro
insônia
insônia noite ansiedade pânico aflito afobo me afogo afino
você
respiro seu cheiro no meu travesseiro expiro a vontade fome angustiante necessidade da sua presença ao me redor
sobre mim
sob mim
dentro de mim
perco o fôlego meus lábios secam sinto você impregnado em mim
como se fosse meu
como se eu fosse sua
nua em pelo nua em ti
completa transbordo
me inebrio embriago
i want to take you like a drug
grave exclusivista definitivo

you've just become my favourite panic attack  

quarta-feira, 1 de julho de 2015

claridão

bem, eu sempre fui melhor com as palavras escritas do que com as faladas, mas nunca fui muito boa em me desculpar. talvez por orgulho, ou por ostentar uma inabalável certeza da total consciência de meus atos, e sempre me julgar tão ciente das consequências. mas qualquer aspecto do meu torna-se inválido e tão pequeno em relação a você. eu sou um átomo de poeira cósmica orbitando sem rumo em seu universo.  o egoísmo que permeia meus atos nunca se aplicou a ti, que sempre foi o meu conceito de empatia, o ponto de partida e a linha de chegada do meu amor, meu mais genuíno amor. eu sou completa, incondicional e irrevogavelmente apaixonada por você, por cada célula de seu corpo, por cada nuança da sua alma. e eu nunca tive coragem de lhe dizer, nunca soube como, nunca pensei que chegaria a o fazer. mas a mera possibilidade de uma vida em que você não está, não me convém, me dói insuportavelmente, me tortura como nada antes já o fez. uma vida sem você é mera existência, é sobrevivência. vácuo. vazio. morno. eu amo você desde a primeira vez que chorei em seus braços, eu estava em meio ao mais imenso caos, e como em uma onda que quebra na praia e traz a calmaria, de repente eu estava em casa. você é meu lar, e pertenço a qualquer lugar em que você esteja. 
dizem que em 7 anos, todas as células do corpo inteiro são destruídas e substituídas. mas as células do cérebro são vitalícias e permanecem as mesmas desde o nascimento até a morte. mesmo que um dia minha alma habite um corpo no qual você nunca tocou, minha mente será sempre um invólucro sagrado de sua presença. 
eu a amo singela e infinitamente, amo-a como ama o amor por si só. amo e não espero nada em troca, de longe, em silêncio. cada lágrima que lhe escorre pelo rosto, eu torno minha. sua dor é inexoravelmente minha, e se eu pudesse arrancá-la de seu corpo e torná-la absoluta e exclusivamente minha, eu o faria sem pensar duas vezes. sem pensar uma vez. 
estar apaixonada por você é a melhor parte de mim, e a mais bonita. é tudo o que tenho, que quero, que sou. o que bombeia sangue pelo meu corpo. e a minha paixão se alimenta simplesmente de sua presença, como oxigênio para os meus pulmões, a fumaça de meu cigarro. claridade. 
eu lhe peço perdão, lhe imploro que me desculpe, que não me deixe adentrar a mais obscura solidão que posso imaginar. nunca foi e nunca será a minha intenção lhe causar qualquer mágoa, e se o fiz saiba que estou a nutrir por mim mesma a decepção mais dolorosa. 
mas o amor que existe em mim, meu bem, é meu. é por ti, mas é meu. não exige nada em troca, e lhe fazer bem é tudo o que preciso. assim sendo, se a distância for o que lhe convir, vou de bom grado, e assisto a tua felicidade de longe com o coração satisfeito. 
só não me deixe no escuro. 

segunda-feira, 2 de março de 2015

dois de março de dois mil e dez

meus lábios de nicotina ainda guardam o gosto dos seus. a fumaça queimando minha garganta e inundando meus pulmões tem o sabor agridoce da memória. as lágrimas são feitas de mar, amargas, a(mar)gas, (amar)gas. a ponta de meus dedos arde indolor em chamas amarelas, minha alma também. meu coração não. naquele março choveu, mas nesse a noite é fria, o vento corta, a janela está aberta, a porta não. nessas veias por onde já se correu o caos, hoje escorre paz. cinco é ímpar, mas estou em par.

é madrugada e não dói. à seco, a( )deus. complicado feito nós.  

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

dor de estômago

como quando eu transei contigo pela primeira vez em minha vida, um dia antes de você ir embora, e a primeira coisa que você me disse era se eu tinha certeza que era virgem. ou quando você disse que nosso relacionamento foi uma imensa auto-flagelação. ou quando você decidiu me deixar mesmo prometendo que nunca o faria. quando você disse que não estive ao seu lado nos seus piores momentos. quando eu lhe disse que só precisava ouvir sua voz e você me ignorou por dois meses. ou quando disse que sentia minha falta, e que eu existia ainda dentro de você, mas foi embora. de novo. 
quando você me arrancou de todos os planos que fizemos juntos e colocou outra no lugar. como se eu fosse descartável, substituível. 
ou por eu ainda assim te amar com cada átomo de mim. 

você tem que ir dormir. 

domingo, 27 de julho de 2014

foi como ser feliz de novo

tons vibrantes de vermelho e verde em cada esquina em tom pastel. 
de chuva somos infinitos: a dança da névoa à canção dos lábios seus. 
se o mundo é um sopro, 
somos vendaval. 
a mágica que áurea nossas almas é quase tangível: somos ápice de amor qualquer. 
aos limites do que nos é intenso e visceral, nossa fronteira é nossa felicidade clandestina - inconstante estática que eletriza nossa imensidão. 
das lágrimas da partida fez-se um mar, mas de nós o amor fez oceano. 
"podemos enfeitar domingos". 

se o amor é um grito, 
somos escândalo.