do fim ao começo ao fim.
eu vou amar você, porque é isso que poeta faz. vou sentir
estalar cada osso, arrepiar cada pelo, escorrer cada lágrima, sorriso, gozo. eu
vou me apaixonar por você cada vez que sentir seus olhos passeando pelo meu
corpo, seus dedos tocando minha pele como tocam uma obra de arte em uma exposição, clandestino. eu vou chorar toda
vez que te deixar, mas vou me fazer de forte e esperar virar a esquina. vou te
escrever poemas e te falar coisas do coração, ouvir essa sua voz meio rouca
ecoar na minha mente toda vez que ler suas palavras, esquizofrenia.
se tudo der certo, você vai se apaixonar. vai me querer de
corpo, alma e lua, vai querer fazer seus todos os meus beijos e além, vai se
esbaldar em mim. vamos dançar ao som todo, qualquer e nenhum. você vai achar
dentro de mim os mesmos demônios que o assombram o âmago, e eles vão se gostar. se é amor nunca é pouco, e é o único nome que você vai saber dar para o que
será.
então vamos nos ver, e nos olhos um do outro teremos
encontrado desequilíbrio e caos: paz.
da arte que somos feitos vamos nos moldar um no outro,
sempre risco de vida. fazer fotografias mentais até dos imperceptíveis hábitos
um do outro, fazer poses pagando de cult em nossas fotos hipsters de casalzinho
moderno que postaremos pra todo mundo ver. fumar do mesmo cigarro, beber da
mesma long neck de cerveja barata sentados na mesma cadeira de plástico de um
boteco copo sujo qualquer.
vamos transar como se nossos corpos dependessem um do outro
para continuarem vivos, e não vamos ter nenhuma espécie de pudor. nosso sexo
vai estar estampado em nossas caras, toda vez que nos tocarmos com as pontas
dos dedos, olhos ou lábios, o desejo e a necessidade do contato da carne, do
prazer imensurável que encontramos em nosso sangue pulsando forte e rápido nas
veias, na respiração descompassada, nos gemidos, chegarão a ser tangíveis.
felicidade lícita.
então você vai perceber que odeia algumas coisas sobre mim,
meu mau humor matinal, minha irresponsabilidade, sedentarismo
físico-artístico-mental, minha inconsequência. você vai conhecer meus amigos,
mas não vai gostar da maioria deles porque a vibe é outra, são novos demais pra
você. vai perceber que talvez eu seja nova demais pra você. a distância nos
tortura, e nos finais de semana eu vou estar enchendo a cara, ficando chapada
com pessoas sem nome que só existem quando quero em algum canto da minha boêmia pra tentar ocupar o
lugar do vazio congênito que assola meu imo.
você vai tentar de tudo, vai me amar com o máximo que sua
alma pode dar, mas eu sou um tiro no escuro. você achava que seria diferente,
que me completaria até vazar, mas eu continuo presa as minhas lacunas, ao meu
vazio pessoal. uma tristeza por inércia, que camuflada engana, mas a rotina
bate ponto todo dia, 24/7.
eu sou o fim de mim mesma dentro da minha constante vontade de ser infinita. a culpa não é sua: eu sou inóspita.